sexta-feira, 27 de junho de 2014

Despedida

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Nós blogueiros buscamos originalidade nos nossos textos. Falar sobre assuntos que as pessoas não falam, ou pelo menos apresentar um ponto de vista ligeiramente (ou esquizofrenicamente) diferente do usual. É claro que isso nem sempre é possível. O motivo é que nós blogueiros somos todos humanos e passamos pelas coisas que pessoas humanas passam, e uma coisa que existe desde que o mundo é mundo (não me refiro à prostituição), e sobre a qual blogueiros falam desde que os blogueiros começaram a falar, é a despedida.

O suspende do parágrafo anterior é totalmente desnecessário uma vez que eu já entreguei no título a surpresa. Enfim.

O ano letivo aqui no hemisfério está terminando por esses dias, e consequentemente vários programas de intercâmbio estão acabando junto. E isso significa, na vida dos estudantes internacionais, que é hora de arrumar as coisas e começar a se despedir dos amigos. Como dito, existem milhares de textos a esse respeito internet afora, mas ainda assim... parece que não é o suficiente. O sentimento é maior do que isso.

Porque a cada vez que nos reunimos, "nós" é menos gente. A cada nova festa, alguém já não está presente, alguém já está de volta ao seu país e já está postando fotos com os amigos antigos, com as mães e pais alegres por ver que o filho ou filha, a despeito do esperado, não se transformou em um maconheiro. E mais forte do que isso é a consciência de estar fazendo várias coisas pela última vez.
A última vez que tomamos cerveja juntos. A última relaxada na chilling room. A última ida ao De Zolder com todo mundo junto reunido. A última vez que marcamos de nos encontrar na porta da frente em cinco minutos. A última vez que nos encontramos na porta da entrada 10 minutos atrasados. A última vez que te explicaram como é aquele palavrão em espanhol ou turco, e logo em seguida a última vez que você esqueceu completamente. A última vez que você assistiu a um jogo da Copa. A última vez que você deu um abraço.

Como eu vou ficar pelo próximo semestre por aqui, as pessoas falam "Mas Marcus, você vai conhecer outras pessoas em quem dar abraços". Evidentemente. Mas entre cem mil raposas é aquela que me cativou que interessa. Ir ao De Zolder pode, em si, ser uma experiência marcante, mas não chega aos pés da experiência de estar lá com amigos. Com gente que apesar da barreira da linguagem criou aqueles tais laços invisíveis que ficam na fotografia. Essa gente que tu vai olhar nos olhos, no momento derradeiro, e dizer aquele "adeus" misturado com "até logo", essa coisa louca de saber que a vida continua igual mas nós seguimos diferentes.
E talvez aí esteja a originalidade da coisa. Porque mesmo que isso aconteça o tempo todo com tantas pessoas, sempre parece que é a primeira vez que estamos sofrendo esse sofrimento bom de quem amou gente e não se arrepende.

Tot ziens!

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Title: Farewell

We, the bloggers, pursue originality in our texts. To talk about things people usually don't talk about, or at least to present a point of view slightly (or schizophrenically) different from what we are all used to. That is, of course, not always possible. The reason is that we bloggers are also human beings, and we have been through the same things that other human beings have, and one special thing that exists since the world is the world (and I am not talking about prostitution), and about what bloggers have been talking about since bloggers started talking, is the farewell.

All the suspense in the previous paragraph is pointless because I already have spoiled the surprise in the title. Anyway.

The academic year is coming to an end, and therefore a lot of exchange programmes are also being finished. And that means on the international students' lifes it is time to start packing things and saying goodbye to a lot of good friends. As I said, there are millions of texts about that on the internet, but even so... it seems to me that is not enough. The feeling is way bigger than that.

Because everytime we gather, "we" are less persons. Each new party, someone more is missing, someone is already back to his/her country and is already posting joyful photos with their old friends, with moms and dads happy to see that against all odds their babies have not turned into potheads. And stronger than that is the conscious of having a lot of "last times".
The last time we drink a beer together. The last relaxed moment in the chilling room. The last reggae session in De Zolder with everybody there. The last time we say we are going to meet at the entrance gate in five minutos. The last time we get there ten minutes late. The last time someone explained to you how to say that specific bad word in spanish or turkish. The last time you forgot completelly how that word was. The last time you watched a World Cup match. The last time you hugged.

As I am staying for the next semester, people say "But Marcus, you will meet other people to hug". Evidently. But among one hundred thousand foxes, only those who captivated me are important. Going to De Zolder might be, per se, an interesting experience, but does not come close to the experience of being there with your friends. With people that despite all the language difficulties created all those invisible connections. Those people you are going to look deep in the eyes and say that "goodbye" mixed with "see you soon", that crazy thing of knowing that life keeps going just the same, but we all go different.
And probably there is the originality of this thing. Because even though that happens all the time with so many people, it always feels like the first time we are suffering that very good kind of suffering, the suffering of those people who loved so hard and do not regret.

Tot ziens!


Durante uma das festas de despedida. Até a polícia compareceu! // During one our farewell parties. Even the police came!
Porque nunca será o último selfie! // Because there is not such a thing as "the last selfie"
Até minha bike disse adeus. Foi roubada segunda-feira de madrugada. Fica aqui o registro do fim de um dos meus relacionamentos amorosos mais longos e sinceros. // Even my bike said goodbye. She was stolen last Monday. Here the record of the end of one of my longest and most sincere love relationships.


domingo, 1 de junho de 2014

Frisbee

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      Sei que tinha prometido que não usaria esse blog como diário, e se não é a primeira vez que digo isso talvez também tenha prometido que nunca mais pediria desculpa por usar o blog como diário mesmo tendo prometido o contrário. Exposta minha consciência do fato, e do fato sobre o fato, tenho que dizer que alguns episódios não podem ficar sem serem narrados, por inúteis e sem importância que pareçam, porque pra mim foram significativos. Um desses é o causo do frisbee preso na árvore.
      Há três semanas fomos eu e uns amigos curtir um tempo bom no Stadspark. Lá é tipo a Redenção de Porto Alegre, só que menos movimentado. Achamos uma clareira para estacionar as bicicletas e começamos a jogar o frisbee que compramos no caminho. Não é bem um frisbee, os puristas poderiam dizer, uma vez que é daqueles furados no meio, uma espécie de disco - se for permitido a analogia nerd, como a coisa em questão é amarela, é exatamente como um anel de força do Sonic.
      Pois bem, todos sabem que a cautela e a precaução em quase todo tipo de atividade conforme passa o tempo dão lugar a seus primos feios descuido e experimentação irresponsável. E por causa disso o frisbee, entre uma jogada e outra, acabou indo parar numa árvore.
      Antes de prosseguir na narrativa, acredito ser relevante uma contextualização psicológica.
      Este que vos fala nasceu da terceira gestação de um casal que queria muito ter um filho. Por motivos de saúde, as duas gestações anteriores não tinham dado certo. Talvez por isso, acabei sendo super protegido pelos meus pais. Então eu brinquei muito na areia, me sujei muito, mas nunca me deixaram fazer nada muito perigoso, como andar em qualquer brinquedo de parque temático que não seja o carro-choque ou subir numa árvore.
      E daí vem o fato seguinte. Juntei toda minha coragem e vontade de preencher aquela falha na minha criação, e subi na árvore. Nada muito espetacular, é claro, no segundo galho eu já conseguia balançar o lugar onde o frisbee se enfiou e consegui derrubá-lo. O placar, então, estava Nós 1 x 0 Frisbee.
      Esse não era o causo inteiro, a história não termina por aí.
      Uma semana depois, repetimos a dose, agora com barbecue e mais amigos. De novo, o tempo passou e com ele a cautela, e quando nos demos por conta o frisbee estava em cima de uma árvore (outra) novamente. Dessa vez muito mais alta, totalmente fora de cogitação subir até lá em cima. Isso era um domingo. Ficamos por lá até altas horas do fim de tarde (tipo 20h, sol alto ainda: esses meridianos acabam com minha noção de tempo), tocando galhos a ver se derrubávamos o dito, e nada. Nós 1 x 1 Frisbee.
      No dia seguinte, e no dia seguinte àquele, voltamos ao parque mas sem sucesso. Se pensaria que num lugar plano como os Países Baixos o vento é forte, mas aparentemente isso só é verdade quando o vento é contra e você já está cansado de pedalar. Fizemos mais algumas visitas, em uma delas um casal de holandeses inclusive me ajudou a atirar pedaços de árvore morta na árvore viva, mas mesmo eles tendo uma pontaria muito melhor do que a minha, não tivemos sucesso. O placar, a essa altura, já estava em Nós 1 x 4 Frisbee.
      Evidentemente cada vez mais derrotados, demos um tempo ao frisbee. Fomos cuidar das nossas vidas. Mas uma sequência de eventos me deu uma injeção gratuita de motivação. Resolvi uma tarefa de Program Correctness muito antes do prazo, fomos ao show do Tropkillaz no Haarlem, ganhamos um monte de pontos no FourSquare em função disso, terminei de ler uma biografia do Paul Erdös, joguei malabares no parque; essa sequência de êxitos me deu gás para tentar o próximo. Me armei agora de corda de varal e fui-me pro parque.
      O café e a persistência foram vitais para o sucesso da operação, tanto quanto a corda. Por uma hora, fiquei arremessando um toco enrolado na corda de varal na árvore, tentando enganchar o toco de forma a balançar o galho do frisbee. Desenvolvi praticamente uma ciência da recuperação de brinquedos voadores, tudo calculado para aumentar a precisão dos lançamentos e diminuir o dano à pobre árvore. Em determinado momento derrubei o frisbee uns 3 metros. Onde ele estava agora seria mais difícil de alcançar com a técnica da corda, a luz do dia já se esvaía, e a situação desesperada pedia medidas desesperadas. Pus-me a escalar a árvore.
      Eu, o garoto certinho que nunca quebrou um osso na vida, dependurado numa árvore a pelo menos 6 metros de altura tentando recuperar um frisbee perdido. Não ousaria ir mais alto, mas o frisbee ainda se encontrava fora do alcance da minha envergadura de 1,70. Mas, como que por um lapso de generosidade do acaso, bem ao meu lado à distância de uma esticada de braço havia um galho caído que usei para pescar o maldito frisbee. Momentos de tensão se passaram enquanto eu passava o brinquedo da árvore para o chão, mas quando vi que o frisbee estava finalmente a salvo no chão, no background da minha mente tocava a música de triunfo do Airton Senna (pa-pa-paaa, pa-pa-paaa...). Desci da árvore ao som de aplausos imaginários.

      É que chega uma hora na vida do cara que ele tem que decidir se é homem ou se é rato. Daria para traçar paralelos com outros aspectos da Vida e do Universo, abstrair a coisa toda para um cara fazendo coisas que não está acostumado a fazer, se permitindo a ir além da zona de conforto, mas acho que vou me manter no bom e velho Natureza versus Homem. Homem versus Frisbee.

      Eu estou todo lanhado, todo estrunchado de ficar tocando pesos na árvore, mas dane-se, eu recuperei o frisbee.

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      I know I have promised I would not use this blog as a diary, and if this is not the first time I am saying this probably I also have promised I would never again apologize about using the blog as a diary even having promised otherwise. Having exposed my knowledge of this fact, and the fact about the fact, I must say that some episodes simply can't go without being narrated and shared, however useless and unimportant they may seem, because to me they were important. One of these episodes is the one about the frisbee that got stuck in the tree.
      Three weeks ago I and some friends went enjoying the good weather in Stadspark. This place is like the Redenção in Porto Alegre, but with less people. We found a glade to park our bikes and started playing with a frisbee we bought on the way there. It is not actually a frisbee, the purists might say, it is one of those with a hole in it, some sort of disc - if the nerd analogies are allowed, as the thing is yellow, it looked exactly like a Sonic's power ring.
      Well, everybody knows that care and caution in almost any activity as times goes by give place to their ugly cousins neglect and irresponsible experimentation. And because of that the frisbee end up in a tree.
      Before proceeding to the rest of the narrative, I believe is relevant some psychological contextualization.
      I was born the third pregnancy of a couple that wanted very bad a baby. Due to health issues, the first two pregnancies did not worked out. Maybe for that, I was raised almost in a bubble. Yes, I played in the sand, got dirty a lot, but never did anything that was by any means dangerous, like going in any theme park toy that was not the bumper car (is it called like that in english?) or climbing a tree.
      And then it comes to the next fact. I gathered all the nerve and will to fulfill that gap in my childhood, and climbed the tree. Nothing too spectacular, of course, in the second branch I stepped on I already could swing the branch where the frisbee was stuck and I could manage to get it. The score, then, was We 1 x 0 Frisbee.
      This was not the whole history, it doesn't end there.
      One week later we repeated everything, now with a barbecue and more friends. Again, time passed and with it the caution, next thing we know is that the frisbee is stuck again to (another) tree. This time much higher, totally impossible to climb there. It was a sunday. We stayed there until the wee hours (like 8pm, high sun still: this meridian thing is too much for my time notion), throwing branches trying to get the frisbee to fall, but nothing. We 1 x 1 Frisbee.
      The day after, and the day after that, we came back to the park but again with no success. One could think that in a place flat like the Netherlands the wind is strong, but apparently it is so only when is against you and you are tired of riding your bike. We made some further visits, in one of them a dutch couple even tried to helpe me throw dead tree pieces in the alive tree, but even them having much better aiming skills than I do, we did not succeeded. The score to that time was already like We 1 x 4 Frisbee.
      Evidently (increasingly) losing, we gave it some time. We went taking care of our lives. But a sequence of events injected me the motivation I was lacking. I solved a Program Correctness task much before the due date, we went to Tropkillaz show in the Haarlem, we got a lot of FourSquare points because of that, I finished reading a Paul Erdös' biography, I juggled in the park; this hits sequence gave me the urge to try the next. I drank a coffee and armed myself with a rope and went straight to the park.
      The coffee and the persistence were essential for the success of the operation, as much as the rope. For about one hour, I kept throwing at the tree a stick tied to the rope, trying to hook the tree in such a way I could swing the branch where the frisbee was this time. I developed pratically a science of retrieving flying toys, everything calculated to maximize the precision of the throws and minimize the damage to the poor tree. At some moment I made the frisbee fall for 3 meters. Where it was now would make much harder to get to it using the rope technique, I was running out of daylight, and the desperate situation was asking for a desperate measure. I got myself climbing the tree.
      I, the straight-laced kid who never broke a bone in his entire life, hanging from a tree at at least 6 meters from the ground trying to get back the lost frisbee. I would not dare to go any higher, but the frisbee was still out of my 170cm range. But, as a surprise generosity of chance, right beside me at the distance of a stretched arm was a broken branch that I used to fish the damned frisbee. Moments of pressure went by as I was trying to take the frisbee from the tree to the ground, but when I saw the frisbee finally laying on the grass I heard, in the backgroung of my mind, the triumph song of Airton Senna (pa-pa-paaa, pa-pa-paaa...). I descended from the tree with the sound of imaginary applauses.

      It comes a time to a guy's life when he has to decide whether he's a man or he's a mouse. I could trace numerous parallels with other aspects of Life and Universe, abstract everything to a guy who doing new things he is not used to do, allowing himself to go beyond his comfortable limits, but I think this time I am just going to keep to the old and good Nature versus Man. Man versus Frisbee.

      I am all scratched, whacked from throwing things at the tree, but what the hell, I got the frisbee back.

Tot ziens!

Para olhos treinados. // For trained eyes.

Não tem problema páreo pra persistência ou pra teimosia. // There is no problem too hard for persistence and stubborness.