quinta-feira, 18 de setembro de 2014

À la minuta

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A ideia quando eu primeiro pensei nesse blog não era torná-lo um blgo culinário. Mas as ideias mudam, e quando se tem alguma coisa importante ou pertinente para se compartilhar a gente vai lá e compartilha, mesmo quando é culinária. Que culinária possa ser algo importante ou pertinente é, de fato, uma das surpresas que eu tive durante esse intercâmbio. Mas vamos aos fatos, contra os quais não há argumentos.

Eu estava meio pra baixo nos últimos dias. Tenho lido bastante na internet que tristeza faz parte da vida, e que não é necessariamente algo ruim; às vezes é importante sentir-se triste. O problema no caso é quando não sabemos a razão da tristeza, daí é uma merda. Se tu sabe que o cheiro ruim vem de um vazamento de gás na cozinha, você vai lá e resolve o problema; mas o que acontece se você não perceber de onde vem o cheiro e tentar melhorar o ambiente acendendo uma vela com fragrância?

Enfim, eu estava meio pra baixo, e resolvi fazer um pouco de exercício físico e ver alguns lugares diferentes pra ver se ajudava. Peguei minha bicicleta favorita (porque agora eu tenho 3, nunca mais quero passar pela situação de ter a bicicleta roubada e ficar a pé) e pus o pé na estrada. A ideia era tentar chegar ao Mar do Norte no menor tempo possível. (Que fique registrado que embora tenham me dito que se leva de 1h30 a 2h para chegar lá a partir de Groningen, eu levei 1h15.) Cheguei lá, me espraiei na grama que cresce em cima do dique que protege a Holanda de uma eventual subida no nível do mar e passei algum tempo sozinho com meus pensamentos. Voltei.

Relaxando no fim do mundo. Estou em cima do dique, uma colina feita pelo homem que se estica praticamente infinito pros lados, e protege do mar. Impressionante.
Exercícios físicos e ver coisas novas me inspiram pra fazer mais coisas diferentes. E além disso eu estava com fome suficiente para comer uma vaca pela perna por causa de todo o esforço de pedalar os 25 quilômetros sempre tentando ir mais rápido. E de alguma forma a ida até o Mar do Norte e a coisa toda de passar um tempão sozinho me lembraram de quando eu era criança, brincando no pátio de casa e tal. A resposta lógica foi então fazer um prato que eu nunca tinha tentado fazer, e que é muito brasileiro apesar do nome francês(?): à la minuta.

No caminho para casa passei no supermercado e conversei com o açougueiro até estar convencido de que o bife que ele estava me vendendo era de fato o que a minha mãe costumava fazer quando eu era piá. E aqui um parênteses para o preço: dois bifinhos custaram 6 euros. O que dá mais ou menos 22 euros por quilo. Isso é 67 reais(!!!). Ou seja: eu não poderia de jeito nenhum errar alguma coisa e no fim ter que tocar a coisa toda fora. Por isso acionei os universitários.

Conversei com a minha mãe pelo Skype durante uns 15 minutos para que ela explicasse para mim e para a Iris - minha amiga da Espanha cuja assistência eu convoquei para diminuir a chance de fracasso e segundo a qual o Português da minha mãe é muito mais fácil de entender do que o meu - como é que se fazia a tal à la minuta. Instruções dadas, metemos a mão na massa.

Para quem estiver interessado na receita da minha mãe, segue a minha versão (dessa vez não tem chinesa rindo do fato de que eu janto sucrilhos, porque eu não janto mais sucrilhos; mas tem um argentino que empresta papel toalha e um indiano que aprova as batatas fritas):

Primeiro ponha em um prato os bifes que serão preparados. Se eles não tiverem sido batidos, faça o serviço. Pique (ou pica? Português é difícil mesmo pra falantes nativos) dois dentes de alho e tempere os bifes com o alho picado e ponha sal a gosto. Deixe os dois pedaços de vaca morta esperando a sua vez de novo.
Descasque as batatas e pique elas também, de forma que os pedaços fiquem um pouco mais finos (mas não muito!) do que um dedo mindinho não destroncado. Com as batatas prontas tu já pode botar o arroz pra cozinhar e o óleo na frigideira pra esquentar. Quando o óleo estiver quente, ponha as batatas lá e tente não deixar elas queimarem.
Em paralelo (cozinhar coisas em paralelo é uma habilidade recém adquirida, impensável um tempo atrás) ponha um pouquinho de óleo em outra panela, com uma pitada de açúcar pra dar cor. Ponha os bifes lá e fique virando eles de vez em quando, tomando todo o cuidado do mundo para que eles não queimem e tu tenha que vender um rim para comprar mais. Depois de uns 4~5 minutos (de acordo com o açougueiro) os bifes devem estar prontos. É hora de adicionar a meia cebola que você esqueceu de deixar cortada. Corta ela na velocidade da luz e acrescenta ao bife. Deixa a cebola trocar uma ideia com o bife e está pronto. A essa altura a batata frita já está no prato (devidamente coberto pelo papel toalha do argentino e devidamente aprovadas pelo indiano). O arroz também, ou talvez leve ainda mais alguns minutos.

Depois disso tudo, preparamos a mesa, tirei umas fotos porque estava bonito demais pra deixar passar, e começamos a comer como se comer fosse algo que nos mantem vivos.
Não sou de me gabar dos meus dotes culinários, porque a galinha frita e o arroz são fáceis, a massa com molho de tomate e galinha tem efeitos gastrointestinais indesejados e a lentilha tem por enquanto uma taxa de sucesso de 50%, mas dessa vez, com a ajuda das pessoas citadas, eu acertei. O prato ficou na minha opinião a duas pitadas de sal da perfeição culinária. Aquilo não foi uma refeição, foi uma experiência espiritual que transcende o paladar, foi uma viagem no tempo até os momentos tranquilos da minha infância em que o desenho acabou e o almoço começou, e subitamente estou à mesa com meu pai e minha mãe, é meio-dia, a luz entra pela janela refletida na parede de tijolos aparentes da escola ao lado da minha casa e filtrada pela cortina enxadrezada vermelha com bordas de tricô que minha mãe fez ela mesma, os azulejos da cozinha tem cara de infância também, um vento morno entra preguiçoso pela porta da área de serviço junto com a cachorrinha Tasmânia (coisa do meu pai, que gostava de dar nomes interessantes para os cachorros que achava na rua; tivemos também uma Pretória), ao fundo podemos ouvir o som alto da televisão da minha vó, sempre sintonizada no Silvio Santos ou no Raul Gil, a televisão e a minha vó, que já não escutava muito bem, e também escutamos as crianças correndo e brincando na escola, e o papagaio da vizinha falando que vai chamar o cachorro, e na mesa tem o arroz soltinho, o bife acebolado e a batata frita, crocante por fora e macia por dentro, e é tudo tão perfeito e tranquilo que eu até digo pra Iris que dá vontade de chorar. E subitamente estou de volta ao presente, o prato está limpo e eu estou com a sensação de quem acabou de ser transportado pra longe em pelo menos 4 dimensões.

Tomatinhos, vagem, arroz, batata frita e bife. Pra ser uma completa à la minuta ainda falta ovo frito e feijão, mas desse jeito já estava muito bom.
Possivelmente não poderei repetir o feito, porque a coisa toda é muito dependente do meu próprio estado de espírito. Só posso dizer que cozinhar não só é divertido como também às vezes chega a ser terapêutico.

Tot ziens!

PS: uma mensagem ao meu eu do passado: vai se ferrar com essa história de caldinho! O fato é que o suquinho da carne que tu gosta de botar no arroz não é uma coisa que depende de quem cozinha, é assunto pessoal da vaca e da panela, não tem muito o que se fazer a respeito. Dessa vez o caldo apareceu, mas como minha mãe fazia para ter aquelas quantidades luxuriantes de caldinho continua a ser um dos Mistérios Inescrutáveis da Minha Existência. Um abraço, Tu Do Futuro.

À la minuta - english

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At first the main idea for this blog wasn't to be a culinary blog. But ideas change, and when one has something important or relevant to share one doesn't care and shares it, even if it is about cooking. That culinary can be something important or relevant is, as a matter of fact, an idea that still amazes me, and was one of the many surprises of this year. But let's face the facts, against which there is no arguments.

I was feeling kind of blue in the past few days. I have read a lot on internet about sadness being part of life, and not necessarily a bad thing; sometimes it is important to feel sad. The problem is when we don't know the reason for the sadness - then it is a pain in the ass. If you know the bad smell you are feeling is a gas leak in the kitchen, you just have to go to the kitchen and end the leak; but what happens if you don't notice the source of the bad smell and tries to purify the air lighting a perfumed candle?

Anyway, I was feeling kind of blue, and decided to do some physical exercise and see some different places, in the hope that that would help to enlighten my mood. I took my favourite bike (because now I have 3, never ever again I want to be in the situation of having a bike stolen and being left on foot) and hit the road. The idea was to try to get to the North Sea in the shortest time possible. (For register sake: even though some people told me it would take almost 2h to get there, I got there in 1h15). I got there, found a comfortable spot in the grass atop the dyke protecting The Netherlands from an eventual rise in the sea level and spent some time alone with my thoughts. Then I came back.

Chilling in the end of the world. I am lying in the dyke, a huge man-made protection against the sea, stretching apparently forever in both directions. Very impressive.
Physical exercise and seeing different things inspire me to do more different things. And besides that, I was hungry enough to eat a cow by her leg (sorry, this makes much more sense in Portuguese) with what all the effort of pedalling the 25km and back always trying to go faster. And somehow going there and spending that time alone reminded me of the past, playing in the courtyard of my house and stuff. The logical answer was then making a dish I never tried before, which is very brazilian despite the name being kind of french: à la minuta.

On the way home I dropped by in the supermarket and talked to the butcher until I was completely convinced that beef he gave me was the same my mother used to cook when I was a child. And here a parenthesis about the price: two little pieces of beef costs 6 euros. That is more or less 22 euros by kg. This is R$67,00(!!!). In other words: I could not by any means screw anything up and in the end have to throw it all away. That is why I called the specialists.

I talked to my mom via Skype for 15 minutes so she could explain to me and to Iris - my friend from Spain whose assistance I requested in order to decrease the chance of failure and according to whom the Portuguese of my mother is much easier to understand than mine - how to make à la minuta. Instructions given, we started the actual work.

For those of you interested on my mother's receipt, it is as follows (and this time there is no chinese girl laughing of the fact that I eat cereal for dinner, because I don't do that anymore; there are, however, one argentinian guy who gives napkins and one indian guy who approves the french fries):

First of all put in a plate the beefs to be prepared. If they are not beaten up (to be softened), do yourself the job. Chop two cloves of garlic and spice the beefs with the chopped garlic as well with as much salt as you think is ok. Let both pieces of dead cow waiting in the plate.
Peel some potatoes off and chop them, in such a way the pieces are not too much smaller than a healthy littlefinger. After preparing the potatoes you can start cooking the rice and heating up the skillet. When the oil in the skillet is hot enough, put the chopped potatoes there taking care to not let them burn.
In paralel (paralel cooking is a very recent acquired skill) put a tad of oil in another pan, with a pinch of sugar (to give colour to the thing). Put the beefs in it and keep turning them, being very very careful so you don't have to sell your kidneys to buy more. After 4 to 5 minutes (according to the butcher) the beefs should be ready. It is time to add the half an onion you forgot to chop beforehand. You chop it at the speed of light and put it together with the beef. Let the onion have a good time with the beefs and then it is done. By now the french fries are already in the plate (properly covered with the napkin of the argentinian and properly approved by the indian). The rice too, or maybe it will take some more minutes.

After all that, we prepared the table, I took some pictures because it was too beautiful to miss the opportunity, and we started to eat as if eating were a thing that keeps us alive.
I don't usually boast about my cooking skills, because fried chicken and rice are easy, my pasta with chicken and tomato sauce has some unfortunate gastrointestinal side effects and my lentil has so far 50% success rate, but this time, with the help of the mentioned people, I did it right. The dish in my humble opinion was 2 salt pinches from culinary perfection. That was not a meal, that was a spiritual experience transcending palate, it was a time travel back to the peaceful times of my childhood, when the morning cartoon was over and I knew the lunch was about to start, and suddenly I am at table with my father and my mother, it is noon, the light enters through the window reflected in the brickwall of the school beside my house and filtered by the plaid curtains with knitted borders that my mother knitted herself, the tiles in the kitchen also feel like childhood, a warm wind lazily enters through the open door in the laundry following our dog Tasmania (she were named by my father, who liked exotic names; we also had another one named Pretoria), in the background it is possible to hear the high volume of the sound of my grandmother's television, perennially tuned on Silvio Santos or Raul Gil, the television and my grandmother, who at that time already couldn't hear very well, and also was possible to hear the children playing and running in the school, and the neighbour's parrot randomly shouting curses, and at the table there was the fluffy rice, the beef with onions and the french fries, crunchy outside and soft inside, and everything is so perfect and peaceful that I go as far as to tell Iris I am about to cry. And all of a sudden I am back to the present, the plate is empty and I have the sensation of having been transported very far in at least 4 dimensions.

Small tomatoes, the green thing that I don't know the name in english, rice, french fries, beef. To be a complete à la minuta still would be necessary fried eggs and black beans, but it was awesome like this anyway.
It is likely I won't be able to repeat the experience, because the whole thing depends on my state of mind. I can only say that cooking not only is funny, but also sometimes can be very therapeutic.

Tot ziens!

PS: a message to Me From The Past: fuck you with all this bullshit about the juice from the meat. The fact is that the juice you like to put over the rice is not something easy that depends on the person cooking, it is a personal matter between the cow and the pan, there is nothing much to be done about it. This time the juice was there, but how my mother made to have those luxuriant amounts of juice is still among the Inscrutable Mysteries of My Existence. Best regards, You In The Future.

domingo, 7 de setembro de 2014

About living and stuff

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It has been a while since last time I wrote something about this crazy year, and for various reasons, depending on which period we are talking about. At first, when I was on vacation, I simply would not know what to write about and even if I knew I would not be able to because that is not how my inspiration works. I need agitation to get ideas, and I need lack of time to get will enough to write. What leads me to the second reason: as soon as the vacation was over, everything started happening so fast that I couldn't at all stop and write. But now things are relatively calm and that's why I am here again.

Last week took place here the ESN Introduction Week, where the new international students that arrived for the next academic year are introduced to this little piece of heaven called Groningen. Who organizes it is the ESN (Erasmus Student Network) of Groningen, but as there are a lot of new students - this year we had 1200 (!), and it is said that this makes Groningen the city with the biggest introduction week of all Europe (!!) - they need help. And I, whose superpower is admittedly being totally INCAPABLE of not being around the things happening, enlisted myself to help.

The activities are planned basicly to know the city, play some sports and learn new things, but the main focus is to get to know people. The students are split in groups, and each group has two guides. In my case, I and Alex were the guides of the group #62. The week personifies (to "personify" it would have to be a person, what I should have used in this case?) the spirit of the exchange: to live fully. But, of course, that could mean anything, and that is why I am going to elongate myself on this subject.

For many times I tried to start a text trying to explain what has changed in my perception of what is "the best", of what is "preferable" when we are talking about living. Never denying a party or staying home to watch a movie? Even now, in this paragraph, which when arrives to your mind will be in the final version, I can say now that is being really difficult to write too.

It is hard to write because is not a simple matter. And whoever says it is, is lying. It is not simply a question of "being prepared for the future" vs. "enjoying the moment", how it was in grandma's time. It is not "responsible" vs. "irresponsible" either, or maybe it is a little...
It is more like allowing yourself to be spontaneous, of choosing whatever path will unleash more emotion and memory, of doing whatever you most want. It is a complete waste living a day that will not be remembered, and we still do that most of the time anyway. So maybe the right question is "what makes a day memorable?"

When I first came here, I thougt I would travel the entire Europe, that I would know all of the touristic points of the world, eat all traditional dishes and take selfies in front of every major statue. But the reality is different, the money is not endless, and one thing that I noticed in a trip I did to Belgium with some friends is that the important part of the phrase "a trip I did to Belgium with some friends" is not "a trip I did to Belgium" and actually is "with some friends". Every important moment I can remember I just can do so because of who were with me, and not because of where I was. And the traditional food anywhere in Europe, so far as I know, is kebab.

That doesn't mean that being with friends in Belgium is not better than being with friends at home, it depends... and oh, how this is so deliciously complicated.

I did not start this text intending to give any conclusions to this matter, and probably will take a huge amount of time until I figure something out. And after that I will still change my mind some times.

The fact is, whatever is the idea, last week personifies it (yes, it is strange to use personify here, but we've been through that already). I knew a lot of people, people nice a lot, got surprised by how the variety in a group contributes largely to the cohesion and success of the group (and someday I will write about that... I have my own matheological on that, and I strongly think they should create something like a sociodynamics, just like eletrodynamics, hidrodynamics, etc., and if someone know something about that, please let me know), took some different workshops, played some sports I didn't even knew what were about before. The week were for the new students, but I as a guide enjoyed it very much.

What I can say of positive is that discovering what I am trying to discover is difficult, but everything points out that once discovered, is easy to live by that. And is not necessary money, it doesn't have to be in some very different place. The world is full of interesting things, and lots of them are near us, wherever we are.

Unles you are in the middle of the Pacific Ocean. In this particular case, there is nothing interesting in a radius of many kilometers.

It is possible to find all kinds of crazy people in the world. In the picture, Group #62.

Our badass team of Lacrosse. We also played Floorball and Squash, none of which I knew a heck about; however, after five minutes into playing Squash, we were all talking business and discussig the Stock Market. Next step is to make business while playing golf.


Tot ziens!

As novidades e viver

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Já faz algum tempo que eu não escrevo nada sobre essa "nave louca" (BIAL, Pedro), e os motivos são diversos, dependendo do período. Primeiro, quando eu estava de férias, eu simplesmente não saberia sobre o quê e mesmo que soubesse não conseguiria escrever nada porque não é assim que a minha inspiração funciona. Eu preciso de agitação pra ter ideias, e preciso de falta de tempo para ter vontade. O que me leva ao segundo motivo: assim que as férias terminaram, tudo começou a acontecer tão depressa que eu não cheguei a ter tempo para escrever. Mas agora as coisas deram uma acalmada e por isso estou aqui.

Semana passada aconteceu a ESN Introduction Week, onde os estudantes internacionais que chegaram para o próximo ano letivo são apresentados a esse pequeno pedaço de paraíso chamado Groningen. Quem organiza é o ESN (Erasmus Student Network) de Groningen, mas como são muitos novos estudantes - esse ano tivemos 1200 (!), e dizem que isso faz de Groningen a cidade com a maior Introduction Week da Europa (!!) - eles precisam de ajuda. E eu, que reconhecidamente tenho o superpoder de ser fisicamente INCAPAZ de ficar longe do furdunço, me alistei para ajudar.

As atividades são basicamente para conhecer a cidade, praticar esportes e aprender coisas novas, mas o principal é conhecer gente. Os estudantes são divididos em grupos, e cada grupo tem dois guias (guides). No meu caso, eu e o Alex eramos os guides do grupo #62. A semana personifica (para personificar teria que ser uma pessoa, o que se diria nesse caso?) o espírito do intercâmbio: vivenciar o máximo. Mas é claro que "vivenciar o máximo" pode significar o que você quiser, por isso prolongar-me-ei no assunto (e nas mesóclises).

Por várias vezes tentei começar um texto tentando explicar o que mudou na minha percepção do que é "melhor", do que é "mais preferível" quando o assunto é viver. Nunca negar uma festa ou ficar em casa assistindo um filme? Mesmo agora esse parágrafo, que quando chegar à sua mente estará na versão final, posso dizer agora que está sendo bem difícil de escrever também.

É difícil de escrever por que não é uma coisa simples. E quem diz que é simples, mente. Não é simplesmente uma questão de "preparar-se para o amanhã" vs. "aproveitar o agora", como era nos tempos da vovó. Não é "certinho" vs. "irresponsável", mas também talvez seja um pouco...
É mais uma coisa de deixar-se ser espontaneo, de escolher o caminho que vai desencadear mais emoção e memória, de fazer o que desperta mais vontade. É um desperdício viver um dia que não será lembrado, e ainda assim nós fazemos isso na maior parte dos dias. Então talvez a pergunta certa seja "o que torna um dia memorável"? E a resposta também não é fácil.

Quando eu vim para cá, achava que ia viajar a Europa inteira, ia conhecer todos os pontos turísticos do mundo, comer todas comidas típicas e tirar selfies na frente de todas estátuas famosas. Mas a realidade é outra, o dinheiro não é infinito, e uma coisa que eu notei em uma viagem que eu fiz pra Bélgica com alguns amigos é que o que conta na frase "uma viagem que eu fiz pra Bélgica com alguns amigos" não é "uma viagem que eu fiz pra Bélgica" e sim "com alguns amigos". Todos os momentos importantes que eu lembro eram por causa de quem estava comigo, e não por causa de onde eu estava. E a comida típica em qualquer lugar da Europa, até onde eu sei, é o kebab mesmo.

Isso não significa que estar com os amigos na Bélgica não seja melhor que estar com os amigos em casa, mas é que depende... E ah, como isso é deliciosamente complicado.

Não iniciei esse texto pensando em dar alguma conclusão para o assunto, provavelmente vai demorar muito até que eu me decida por uma ideia. E depois posso mudar de ideia de novo.

O fato é que seja qual for a moral, a semana passada personifica (sim, é estranho, já passamos por isso) a dita moral. Conheci gente pra caramba, gente boa pra caramba, me surpreendi como a diversidade de um grupo contribui sobremaneira para a coesão e sucesso do grupo (e um dia ainda escreverei a respeito... tenho minhas ideias mateológicas a respeito, e acho muito que deveriam criar algo como uma sociodinâmica, assim como existe a eletrodinâmica, a hidrodinâmica, etc., se alguém souber algo a respeito me avise), participei de uns workshops diferentes, joguei uns esportes que eu nem sabia do que se tratavam. A semana era pros estudantes novos, mas mesmo eu como Guide curti horrores.

O que eu posso dizer de positivo é que descobrir o que estou tentando descobrir é difícil, mas parece que uma vez descoberto, é fácil viver de acordo. E não precisa de dinheiro, não precisa ser em um lugar muito diferente. O mundo está cheio de coisas interessantes, e várias delas estão perto de nós, independente de onde estejamos.

A menos que você esteja no meio do oceano Pacífico. Nesse caso não tem nada de interessante em um raio de vários quilômetros.

Tu encontra todo tipo de gente nesse mundo. Na foto, o grupo #62.

Time badass de Lacrosse. Jogamos também Floorball e Squash, nenhum dos quais eu fazia a menor ideia de como se jogava; no entanto, após cinco minutos de Squash já estávamos discutindo negócio e valores de ações. Próximo passo é fechar negócio jogando golfe.


Tot ziens!