quinta-feira, 5 de março de 2015

What the exchange taught me

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Everybody who have studied abroad to whom I asked for advice before I went to Groningen agreed in one point: doing an exchange is something that teaches lots of things.

To me, personally, taught to see the world and the persons in it in a very different way, much closer, much more concrete, much more marvellous; the world became smaller and bigger at the same time. Smaller because I had contact with things and people that were very far away before, and now I feel them close. Bigger because I thought I knew things before, but now that I really know more I realized for real the world has so many things to be seen and discovered and known, and I feel ashamed of the times when I arrogantly assumed I knew shit; we all know so little, and we are equal in our ignorance.

It taught me also one or two things about what does it mean to enjoy life. Is it true that we have to do expensive stuff or grand stuff or nice-to-post-to-facebook stuff to feel we are having a life worth living? Or, instead, the best moments were those when we were with people we like, talking, exchanging ideas, simply building connections with other human beings? This question is tough, and I haven't been able to digest it trough yet. When I tell my friends how many countries I visited during my stay in Europe, I feel that they think (or I project on them what I internally think myself - and in the end it doesn't really matter, either way it is something I have to overcome as a person) I haven't enjoyed fully, but how to make them understand how PRECIOUS were the days and nights I spent with my friends?

Still on the same topic, the year that passed made think and rethink a lot of things about the future, about carrer, money, success. What is the point after which we should stop having the discipline to do something we don't like but that will bring us good things in the future and start doing more stuff now that brings us good things now? Is there a middle way that allows us to conciliate present and future? I don't mean that we should surrender ourselves to mundane pleasures and fuck our health by doing so, but doesn't it make sense to think that an experience we have today will change us in such a way we will see the world and our subsequent experiences differently? Thinking like that, living the now and searching for new sensations is not recklessness, it is actually a long-term investment.

But I had not become a hippie, because the exchange also taught me that what makes lying in your bed and reading a book at night soooo good is the sensation of having had a productive day, and therefore not having the guilt of procrastination looming over your head.

The exchange put me in touch with people I would have never met otherwise. Many of those people became special, to the point of making me realize that they, before being "people I met during exchange", are simply "people". The friendships I built this year are not souvenirs from my trip to Europe, they are consequence of the impact I had on the lives of the people that had impact in my life. And even though I think this is one of the most important points I wanted to cover, I can't explain better.

What the exchange in Groningen did not teach me was how to handle this emotional luggage, this whole connection I have with the people I met and loved. Last year, when I was going, I had no idea whatsoever of how painful a simple "I miss you" could be, when you are not in the range of a hug, when you can't just go downstairs to be close again. It is confusing, but this "missing" and nostalgia feelings can be felt almost as physical pain.

Maybe that is the last lesson from the exchange, the fact that some things we don't understand and never learn how to handle. The pain of splitting is the price to pay for the privilege of bonding.

O que o intercâmbio me ensinou

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Todo mundo que fez intercâmbio a quem recorri para pedir conselhos e ajuda, antes de ir a Groningen, concordou: intercâmbio é algo que te ensina muitas coisas.

Para mim, pessoalmente, ensinou a ver o mundo e as pessoas que estão nele de um jeito muito diferente, muito mais próximo, muito mais concreto, muito mais maravilhoso; o mundo ficou menor e maior ao mesmo tempo. Menor porque tive contato com coisas e pessoas que estavam antes muito longe, e agora os sinto muito perto. Maior porque antes eu achava que conhecia coisas, mas agora que conheço mais só me dei mais conta de que tem muita coisa mundo afora pra ser vista e descoberta e conhecida, e me sinto muito envergonhado das vezes em que arrogantemente achei saber alguma coisa; todos sabemos muito pouco, e somos todos iguais na nossa ignorância.

Ensinou também uma coisa ou duas a respeito do que significa aproveitar o nosso tempo de vida. Será que temos que fazer coisas caras ou coisas grandiosas ou coisas que ficam bonitas no Facebook para sentirmos que estamos aproveitando nossa vida? Ou será que os melhores momentos foram aqueles em que estávamos com pessoas de que gostamos, conversando, trocando ideias, simplesmente construindo laços e conexões com outros seres humanos? Essa é bem difícil, e eu ainda não digeri. Quando digo para meus amigos quantos países eu visitei, sinto que eles pensam (ou projeto neles aquilo que internamente eu mesmo penso, o que de certa forma dá na mesma - o que tenho que superar é tanto externo quanto interno) que não aproveitei o suficiente, mas como fazê-los entender o quão PRECIOSOS foram os dias e noites que passei com meus amigos?

Ainda no mesmo tópico, o ano que passou me fez pensar e repensar muitas coisas a respeito do futuro, de carreira, de dinheiro, de sucesso. A partir de qual ponto devemos parar de ter disciplina para fazer algo que não gostamos mas que vai nos fazer bem no futuro e começar a fazer mais coisas agora que nos fazem bem agora? Será que não existe um caminho do meio pelo qual é possível conciliar futuro e presente? Não que devamos nos entregar aos prazeres mundanos e acabar com nossa saúde, mas não faz sentido pensar que uma experiência que tivermos hoje vai nos modelar de forma que enxergaremos o mundo e as experiências subsequentes diferentemente? Pensando assim, viver no agora e buscar novas sensações não é irresponsabilidade, é um investimento intelectual de longo prazo.

Mas não virei hippie, porque o intercâmbio também me ensinou que o que faz ler um livro antes de dormir tããão bom é a sensação de que se teve um dia produtivo, e consequente ausência de culpa.

O intercâmbio me botou em contato com pessoas que eu nunca encontraria de outra forma. Muitas dessas pessoas se tornaram especiais, a ponto de me fazer entender que elas, antes de serem "pessoas que eu conheci no intercâmbio", são simplesmente "pessoas". As amizades que fiz esse ano não são souvenirs da minha ida pra Europa, são consequência do impacto que tive na vida das pessoas que tiveram impacto na minha vida. E por mais que eu ache isso de extrema importancia, não consigo explicar melhor.

O que o intercâmbio não me ensinou foi a lidar com toda essa bagagem emocional, com toda essa conexão que fiz com as pessoas que conheci e amei. Ano passado, quando estava indo, eu não fazia ideia do quão doloroso um "I miss you" pode ser, quando não se está a poucos quilômetros de um abraço, quando não basta descer as escadas para se estar perto de novo. É confuso, mas saudade e nostalgia podem ser sentidas quase como uma dor física.

Talvez essa seja a última lição do intercâmbio, a de que algumas coisas a gente não entende e não lida mesmo. A dor da separação é o preço a se pagar pelo privilégio de ter se conectado.

domingo, 4 de janeiro de 2015

Future

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Happy New Year, passangers of this crazy spaceship I named Flying Dutchman! The events on batavian lands keep going the same track as usual: make me learn a lot, make me re-learn a lot, and most of all keep showing me that the set of things I know is countable, while the set of things I don't know... this one is uncountable, and infinite in ways that would make the Real Numbers Set jealous.

I haven't written as much as I imagined I would have at first. The reason is not lack of topics, actually the stack of topics about which I would like to talk about is always getting higher and higher, much faster than my typing skills would allow me to write. The reason is that a topic in particular have been poping up in my mind much more frequently than any other, and it is about that that I want to talk now.

What do you want for your life? I am sorry I ask this question like that, without preparation, but I couldn't think in any way to soften the impact. And it is like that the question comes to me, urgent, as if my future depends on its answer.

When I was in Liberato, highschool with technical studies in Electronics, between 2008 and 2012, the future presented itself clearly: I would finish highschool, find a job in the technical area, work during the day and go to college during the night. The salary would be good, not awesome but more than enough to cover food and living expenses, some extra to buy books, etc. What would I be studying? Something technical, maybe an engineering, something envolving Mathematics but with good salary expectation.

That sounded perfect to me then. But now... I don't know.

I consider myself super lucky for not having to think about a job as if it was something to prevent me from starving. My parents always worked very hard so my family would never lack the necessary, and even though I have never had the best toys (or, later, the equivalent of best toys for the teenagers and young adults), our fruit basket was always full. So this text may sound to you as a spoiled child crying, so be it. One of the countless doubts I have now is if it is so much necessary that everybody accept suffering as an inevitable part of life.

I want to have a job that satisfies me as a human being. The idea of working/studying the whole year waiting for the vacation period, the whole week waiting for Friday, the whole day waiting for the time we go home... This idea depresses me. In the books of Isaac Asimov he very frequently talks about a future when science and technology frees people from boring jobs, so everybody have free time to spend doing stuff they really love. Is too soon to want something like that?

In my specific case, studying Computer Science, my fear is to become someone's employee, working in a project that does not inspires me at all, to get "higher" in the company and have money which I will not have the time to spend. Being able to buy books, but never relaxed enough to enjoy them.

I like to finish my posts with some sort of conclusion, and in the beginning of this one I expected to end up having some sort of insight during the process of writing, but miracles don't happen. And, in a post I started talking about not knowing stuff, nothig more coherent than finishing without conclusion.

Lucky ones those who know what the future has to them.

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Futuro

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Feliz ano novo, passageiros dessa espaçonave louca que eu batizei de Holandês Voador! Os eventos em terras batávias continuam na mesma linha: me fazem aprender um monte, me fazem reaprender um monte, e me mostram cada vez mais que o conjunto das coisas que eu sei é numerável, enquanto que o conjunto das dúvidas... esse é inumerável, e infinito em formas que fariam o conjunto dos números Reais sentir inveja!

Não tenho escrito tanto quanto eu imaginava que escreveria no início. A razão não é falta de assuntos, na verdade a pilha de assuntos sobre os quais eu gostaria de falar sempre cresce mais rápido do que a minha datilografia permite; a razão é que um assunto em particular tem tomado minha mente muito mais frequentemente do que os outros, e é sobre esse assunto que eu gostaria de falar agora.

O que é que você quer fazer da sua vida? Me desculpe se faço a pergunta assim, à queima roupa, mas não consegui pensar em nenhuma forma de amenizar o impacto. Até porque é assim que essa pergunta me surge sempre, urgente, como se meu futuro dependesse disso.

Quando eu estava no Liberato, entre 2008 e 2012, o futuro parecia bem claro: eu ia terminar o técnico, arrumar um emprego na área, trabalhar de dia e estudar de noite. O salário seria bom, não absurdamente alto mas mais do que suficiente para comer, viver, comprar livros e tal. O que eu estaria estudando? Algo técnico, alguma engenharia, alguma coisa que envolvesse Matemática mas que pagasse bem.

Isso soava perfeito para o meu eu da época. Mas hoje... Não sei.

Eu sou afortunado por não ter que pensar em um emprego como algo para me salvar da fome. Meus pais sempre trabalharam duro para que a minha família tivesse o necessário, e embora eu nunca pude ter os melhores brinquedos (ou, mais tarde, ir nos lugares mais badalados), nossa cesta de frutas estava (e ainda está! Crise financeira na nossa casa é marolinha) sempre cheia. Então esse texto talvez lhe soe como um choro de criança mimada, pois que seja. Uma das inúmeras dúvidas que eu tenho é se é tão necessário assim que todo mundo aceite o sofrimento como inevitável.

Eu quero ter um emprego que me satisfaça como ser humano. A ideia de trabalhar/estudar o ano todo esperando as férias, a semana inteira esperando a sexta-feira, o dia todo esperando o final do expediente... essa ideia me deprime. Nas histórias do Isaac Asimov frequentemente se fala de um futuro em que a ciência e a tecnologia libertou as pessoas de trabalhos entediantes, e todo mundo tem tempo livre para se dedicar às atividades que eles realmente amam. Seria muito cedo para querer algo assim?

No meu caso, especificamente, estudando Ciência da Computação o medo é virar empregado de alguém, trabalhando em algum projeto que não me inspira, para "subir na carreira" e ter dinheiro que eu não vou ter tempo para gastar. Poder comprar livros, mas nunca estar relaxado o suficiente para saboreá-los.

Eu gosto de terminar textos com alguma forma de conclusão, e no início do texto eu esperava acabar tendo algum insight no decorrer da escrita, mas milagres não acontecem. E, em um texto que comecei falando de dúvidas, nada mais coerente do que terminar sem uma conclusão.

Afortunados aqueles que sabem o que futuro lhes reserva.

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quinta-feira, 18 de setembro de 2014

À la minuta

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A ideia quando eu primeiro pensei nesse blog não era torná-lo um blgo culinário. Mas as ideias mudam, e quando se tem alguma coisa importante ou pertinente para se compartilhar a gente vai lá e compartilha, mesmo quando é culinária. Que culinária possa ser algo importante ou pertinente é, de fato, uma das surpresas que eu tive durante esse intercâmbio. Mas vamos aos fatos, contra os quais não há argumentos.

Eu estava meio pra baixo nos últimos dias. Tenho lido bastante na internet que tristeza faz parte da vida, e que não é necessariamente algo ruim; às vezes é importante sentir-se triste. O problema no caso é quando não sabemos a razão da tristeza, daí é uma merda. Se tu sabe que o cheiro ruim vem de um vazamento de gás na cozinha, você vai lá e resolve o problema; mas o que acontece se você não perceber de onde vem o cheiro e tentar melhorar o ambiente acendendo uma vela com fragrância?

Enfim, eu estava meio pra baixo, e resolvi fazer um pouco de exercício físico e ver alguns lugares diferentes pra ver se ajudava. Peguei minha bicicleta favorita (porque agora eu tenho 3, nunca mais quero passar pela situação de ter a bicicleta roubada e ficar a pé) e pus o pé na estrada. A ideia era tentar chegar ao Mar do Norte no menor tempo possível. (Que fique registrado que embora tenham me dito que se leva de 1h30 a 2h para chegar lá a partir de Groningen, eu levei 1h15.) Cheguei lá, me espraiei na grama que cresce em cima do dique que protege a Holanda de uma eventual subida no nível do mar e passei algum tempo sozinho com meus pensamentos. Voltei.

Relaxando no fim do mundo. Estou em cima do dique, uma colina feita pelo homem que se estica praticamente infinito pros lados, e protege do mar. Impressionante.
Exercícios físicos e ver coisas novas me inspiram pra fazer mais coisas diferentes. E além disso eu estava com fome suficiente para comer uma vaca pela perna por causa de todo o esforço de pedalar os 25 quilômetros sempre tentando ir mais rápido. E de alguma forma a ida até o Mar do Norte e a coisa toda de passar um tempão sozinho me lembraram de quando eu era criança, brincando no pátio de casa e tal. A resposta lógica foi então fazer um prato que eu nunca tinha tentado fazer, e que é muito brasileiro apesar do nome francês(?): à la minuta.

No caminho para casa passei no supermercado e conversei com o açougueiro até estar convencido de que o bife que ele estava me vendendo era de fato o que a minha mãe costumava fazer quando eu era piá. E aqui um parênteses para o preço: dois bifinhos custaram 6 euros. O que dá mais ou menos 22 euros por quilo. Isso é 67 reais(!!!). Ou seja: eu não poderia de jeito nenhum errar alguma coisa e no fim ter que tocar a coisa toda fora. Por isso acionei os universitários.

Conversei com a minha mãe pelo Skype durante uns 15 minutos para que ela explicasse para mim e para a Iris - minha amiga da Espanha cuja assistência eu convoquei para diminuir a chance de fracasso e segundo a qual o Português da minha mãe é muito mais fácil de entender do que o meu - como é que se fazia a tal à la minuta. Instruções dadas, metemos a mão na massa.

Para quem estiver interessado na receita da minha mãe, segue a minha versão (dessa vez não tem chinesa rindo do fato de que eu janto sucrilhos, porque eu não janto mais sucrilhos; mas tem um argentino que empresta papel toalha e um indiano que aprova as batatas fritas):

Primeiro ponha em um prato os bifes que serão preparados. Se eles não tiverem sido batidos, faça o serviço. Pique (ou pica? Português é difícil mesmo pra falantes nativos) dois dentes de alho e tempere os bifes com o alho picado e ponha sal a gosto. Deixe os dois pedaços de vaca morta esperando a sua vez de novo.
Descasque as batatas e pique elas também, de forma que os pedaços fiquem um pouco mais finos (mas não muito!) do que um dedo mindinho não destroncado. Com as batatas prontas tu já pode botar o arroz pra cozinhar e o óleo na frigideira pra esquentar. Quando o óleo estiver quente, ponha as batatas lá e tente não deixar elas queimarem.
Em paralelo (cozinhar coisas em paralelo é uma habilidade recém adquirida, impensável um tempo atrás) ponha um pouquinho de óleo em outra panela, com uma pitada de açúcar pra dar cor. Ponha os bifes lá e fique virando eles de vez em quando, tomando todo o cuidado do mundo para que eles não queimem e tu tenha que vender um rim para comprar mais. Depois de uns 4~5 minutos (de acordo com o açougueiro) os bifes devem estar prontos. É hora de adicionar a meia cebola que você esqueceu de deixar cortada. Corta ela na velocidade da luz e acrescenta ao bife. Deixa a cebola trocar uma ideia com o bife e está pronto. A essa altura a batata frita já está no prato (devidamente coberto pelo papel toalha do argentino e devidamente aprovadas pelo indiano). O arroz também, ou talvez leve ainda mais alguns minutos.

Depois disso tudo, preparamos a mesa, tirei umas fotos porque estava bonito demais pra deixar passar, e começamos a comer como se comer fosse algo que nos mantem vivos.
Não sou de me gabar dos meus dotes culinários, porque a galinha frita e o arroz são fáceis, a massa com molho de tomate e galinha tem efeitos gastrointestinais indesejados e a lentilha tem por enquanto uma taxa de sucesso de 50%, mas dessa vez, com a ajuda das pessoas citadas, eu acertei. O prato ficou na minha opinião a duas pitadas de sal da perfeição culinária. Aquilo não foi uma refeição, foi uma experiência espiritual que transcende o paladar, foi uma viagem no tempo até os momentos tranquilos da minha infância em que o desenho acabou e o almoço começou, e subitamente estou à mesa com meu pai e minha mãe, é meio-dia, a luz entra pela janela refletida na parede de tijolos aparentes da escola ao lado da minha casa e filtrada pela cortina enxadrezada vermelha com bordas de tricô que minha mãe fez ela mesma, os azulejos da cozinha tem cara de infância também, um vento morno entra preguiçoso pela porta da área de serviço junto com a cachorrinha Tasmânia (coisa do meu pai, que gostava de dar nomes interessantes para os cachorros que achava na rua; tivemos também uma Pretória), ao fundo podemos ouvir o som alto da televisão da minha vó, sempre sintonizada no Silvio Santos ou no Raul Gil, a televisão e a minha vó, que já não escutava muito bem, e também escutamos as crianças correndo e brincando na escola, e o papagaio da vizinha falando que vai chamar o cachorro, e na mesa tem o arroz soltinho, o bife acebolado e a batata frita, crocante por fora e macia por dentro, e é tudo tão perfeito e tranquilo que eu até digo pra Iris que dá vontade de chorar. E subitamente estou de volta ao presente, o prato está limpo e eu estou com a sensação de quem acabou de ser transportado pra longe em pelo menos 4 dimensões.

Tomatinhos, vagem, arroz, batata frita e bife. Pra ser uma completa à la minuta ainda falta ovo frito e feijão, mas desse jeito já estava muito bom.
Possivelmente não poderei repetir o feito, porque a coisa toda é muito dependente do meu próprio estado de espírito. Só posso dizer que cozinhar não só é divertido como também às vezes chega a ser terapêutico.

Tot ziens!

PS: uma mensagem ao meu eu do passado: vai se ferrar com essa história de caldinho! O fato é que o suquinho da carne que tu gosta de botar no arroz não é uma coisa que depende de quem cozinha, é assunto pessoal da vaca e da panela, não tem muito o que se fazer a respeito. Dessa vez o caldo apareceu, mas como minha mãe fazia para ter aquelas quantidades luxuriantes de caldinho continua a ser um dos Mistérios Inescrutáveis da Minha Existência. Um abraço, Tu Do Futuro.

À la minuta - english

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At first the main idea for this blog wasn't to be a culinary blog. But ideas change, and when one has something important or relevant to share one doesn't care and shares it, even if it is about cooking. That culinary can be something important or relevant is, as a matter of fact, an idea that still amazes me, and was one of the many surprises of this year. But let's face the facts, against which there is no arguments.

I was feeling kind of blue in the past few days. I have read a lot on internet about sadness being part of life, and not necessarily a bad thing; sometimes it is important to feel sad. The problem is when we don't know the reason for the sadness - then it is a pain in the ass. If you know the bad smell you are feeling is a gas leak in the kitchen, you just have to go to the kitchen and end the leak; but what happens if you don't notice the source of the bad smell and tries to purify the air lighting a perfumed candle?

Anyway, I was feeling kind of blue, and decided to do some physical exercise and see some different places, in the hope that that would help to enlighten my mood. I took my favourite bike (because now I have 3, never ever again I want to be in the situation of having a bike stolen and being left on foot) and hit the road. The idea was to try to get to the North Sea in the shortest time possible. (For register sake: even though some people told me it would take almost 2h to get there, I got there in 1h15). I got there, found a comfortable spot in the grass atop the dyke protecting The Netherlands from an eventual rise in the sea level and spent some time alone with my thoughts. Then I came back.

Chilling in the end of the world. I am lying in the dyke, a huge man-made protection against the sea, stretching apparently forever in both directions. Very impressive.
Physical exercise and seeing different things inspire me to do more different things. And besides that, I was hungry enough to eat a cow by her leg (sorry, this makes much more sense in Portuguese) with what all the effort of pedalling the 25km and back always trying to go faster. And somehow going there and spending that time alone reminded me of the past, playing in the courtyard of my house and stuff. The logical answer was then making a dish I never tried before, which is very brazilian despite the name being kind of french: à la minuta.

On the way home I dropped by in the supermarket and talked to the butcher until I was completely convinced that beef he gave me was the same my mother used to cook when I was a child. And here a parenthesis about the price: two little pieces of beef costs 6 euros. That is more or less 22 euros by kg. This is R$67,00(!!!). In other words: I could not by any means screw anything up and in the end have to throw it all away. That is why I called the specialists.

I talked to my mom via Skype for 15 minutes so she could explain to me and to Iris - my friend from Spain whose assistance I requested in order to decrease the chance of failure and according to whom the Portuguese of my mother is much easier to understand than mine - how to make à la minuta. Instructions given, we started the actual work.

For those of you interested on my mother's receipt, it is as follows (and this time there is no chinese girl laughing of the fact that I eat cereal for dinner, because I don't do that anymore; there are, however, one argentinian guy who gives napkins and one indian guy who approves the french fries):

First of all put in a plate the beefs to be prepared. If they are not beaten up (to be softened), do yourself the job. Chop two cloves of garlic and spice the beefs with the chopped garlic as well with as much salt as you think is ok. Let both pieces of dead cow waiting in the plate.
Peel some potatoes off and chop them, in such a way the pieces are not too much smaller than a healthy littlefinger. After preparing the potatoes you can start cooking the rice and heating up the skillet. When the oil in the skillet is hot enough, put the chopped potatoes there taking care to not let them burn.
In paralel (paralel cooking is a very recent acquired skill) put a tad of oil in another pan, with a pinch of sugar (to give colour to the thing). Put the beefs in it and keep turning them, being very very careful so you don't have to sell your kidneys to buy more. After 4 to 5 minutes (according to the butcher) the beefs should be ready. It is time to add the half an onion you forgot to chop beforehand. You chop it at the speed of light and put it together with the beef. Let the onion have a good time with the beefs and then it is done. By now the french fries are already in the plate (properly covered with the napkin of the argentinian and properly approved by the indian). The rice too, or maybe it will take some more minutes.

After all that, we prepared the table, I took some pictures because it was too beautiful to miss the opportunity, and we started to eat as if eating were a thing that keeps us alive.
I don't usually boast about my cooking skills, because fried chicken and rice are easy, my pasta with chicken and tomato sauce has some unfortunate gastrointestinal side effects and my lentil has so far 50% success rate, but this time, with the help of the mentioned people, I did it right. The dish in my humble opinion was 2 salt pinches from culinary perfection. That was not a meal, that was a spiritual experience transcending palate, it was a time travel back to the peaceful times of my childhood, when the morning cartoon was over and I knew the lunch was about to start, and suddenly I am at table with my father and my mother, it is noon, the light enters through the window reflected in the brickwall of the school beside my house and filtered by the plaid curtains with knitted borders that my mother knitted herself, the tiles in the kitchen also feel like childhood, a warm wind lazily enters through the open door in the laundry following our dog Tasmania (she were named by my father, who liked exotic names; we also had another one named Pretoria), in the background it is possible to hear the high volume of the sound of my grandmother's television, perennially tuned on Silvio Santos or Raul Gil, the television and my grandmother, who at that time already couldn't hear very well, and also was possible to hear the children playing and running in the school, and the neighbour's parrot randomly shouting curses, and at the table there was the fluffy rice, the beef with onions and the french fries, crunchy outside and soft inside, and everything is so perfect and peaceful that I go as far as to tell Iris I am about to cry. And all of a sudden I am back to the present, the plate is empty and I have the sensation of having been transported very far in at least 4 dimensions.

Small tomatoes, the green thing that I don't know the name in english, rice, french fries, beef. To be a complete à la minuta still would be necessary fried eggs and black beans, but it was awesome like this anyway.
It is likely I won't be able to repeat the experience, because the whole thing depends on my state of mind. I can only say that cooking not only is funny, but also sometimes can be very therapeutic.

Tot ziens!

PS: a message to Me From The Past: fuck you with all this bullshit about the juice from the meat. The fact is that the juice you like to put over the rice is not something easy that depends on the person cooking, it is a personal matter between the cow and the pan, there is nothing much to be done about it. This time the juice was there, but how my mother made to have those luxuriant amounts of juice is still among the Inscrutable Mysteries of My Existence. Best regards, You In The Future.

domingo, 7 de setembro de 2014

About living and stuff

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It has been a while since last time I wrote something about this crazy year, and for various reasons, depending on which period we are talking about. At first, when I was on vacation, I simply would not know what to write about and even if I knew I would not be able to because that is not how my inspiration works. I need agitation to get ideas, and I need lack of time to get will enough to write. What leads me to the second reason: as soon as the vacation was over, everything started happening so fast that I couldn't at all stop and write. But now things are relatively calm and that's why I am here again.

Last week took place here the ESN Introduction Week, where the new international students that arrived for the next academic year are introduced to this little piece of heaven called Groningen. Who organizes it is the ESN (Erasmus Student Network) of Groningen, but as there are a lot of new students - this year we had 1200 (!), and it is said that this makes Groningen the city with the biggest introduction week of all Europe (!!) - they need help. And I, whose superpower is admittedly being totally INCAPABLE of not being around the things happening, enlisted myself to help.

The activities are planned basicly to know the city, play some sports and learn new things, but the main focus is to get to know people. The students are split in groups, and each group has two guides. In my case, I and Alex were the guides of the group #62. The week personifies (to "personify" it would have to be a person, what I should have used in this case?) the spirit of the exchange: to live fully. But, of course, that could mean anything, and that is why I am going to elongate myself on this subject.

For many times I tried to start a text trying to explain what has changed in my perception of what is "the best", of what is "preferable" when we are talking about living. Never denying a party or staying home to watch a movie? Even now, in this paragraph, which when arrives to your mind will be in the final version, I can say now that is being really difficult to write too.

It is hard to write because is not a simple matter. And whoever says it is, is lying. It is not simply a question of "being prepared for the future" vs. "enjoying the moment", how it was in grandma's time. It is not "responsible" vs. "irresponsible" either, or maybe it is a little...
It is more like allowing yourself to be spontaneous, of choosing whatever path will unleash more emotion and memory, of doing whatever you most want. It is a complete waste living a day that will not be remembered, and we still do that most of the time anyway. So maybe the right question is "what makes a day memorable?"

When I first came here, I thougt I would travel the entire Europe, that I would know all of the touristic points of the world, eat all traditional dishes and take selfies in front of every major statue. But the reality is different, the money is not endless, and one thing that I noticed in a trip I did to Belgium with some friends is that the important part of the phrase "a trip I did to Belgium with some friends" is not "a trip I did to Belgium" and actually is "with some friends". Every important moment I can remember I just can do so because of who were with me, and not because of where I was. And the traditional food anywhere in Europe, so far as I know, is kebab.

That doesn't mean that being with friends in Belgium is not better than being with friends at home, it depends... and oh, how this is so deliciously complicated.

I did not start this text intending to give any conclusions to this matter, and probably will take a huge amount of time until I figure something out. And after that I will still change my mind some times.

The fact is, whatever is the idea, last week personifies it (yes, it is strange to use personify here, but we've been through that already). I knew a lot of people, people nice a lot, got surprised by how the variety in a group contributes largely to the cohesion and success of the group (and someday I will write about that... I have my own matheological on that, and I strongly think they should create something like a sociodynamics, just like eletrodynamics, hidrodynamics, etc., and if someone know something about that, please let me know), took some different workshops, played some sports I didn't even knew what were about before. The week were for the new students, but I as a guide enjoyed it very much.

What I can say of positive is that discovering what I am trying to discover is difficult, but everything points out that once discovered, is easy to live by that. And is not necessary money, it doesn't have to be in some very different place. The world is full of interesting things, and lots of them are near us, wherever we are.

Unles you are in the middle of the Pacific Ocean. In this particular case, there is nothing interesting in a radius of many kilometers.

It is possible to find all kinds of crazy people in the world. In the picture, Group #62.

Our badass team of Lacrosse. We also played Floorball and Squash, none of which I knew a heck about; however, after five minutes into playing Squash, we were all talking business and discussig the Stock Market. Next step is to make business while playing golf.


Tot ziens!