domingo, 3 de agosto de 2014

Anatomia de um estudante internacional

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Um tipo de bicho que circula aqui pelas ruas de Groningen e pelas ruas da maioria das cidades universitárias de que tenho ouvido falar, falando alto em momentos inconvenientes, ignorando feriados locais e pedindo ajuda em inglês para pessoas aleatórias no centro da cidade, são os estudantes internacionais. Onde vivem? Do que se alimentam? Como conseguem administrar o dinheiro de forma a, depois de toda a bebedeira e de todas as festas, ainda ter dinheiro para comprar pão, queijo e salame?

Primeiro de tudo, como é meu costume, convem ressaltar que em tudo há vários lados, e nenhum estudante internacional é como os outros. No entanto essa comunidade acaba, pela unicidade de seus elementos, criando características gerais que, em maior ou menor grau, se aplicam a todos os seus elementos. Exceto quando não se aplicam. Pegaram a ideia.
Para entender esse bicho é necessário entender que ele tem muitas contradições. Todo estudante internacional está continuamente procurando pelo novo, pela novidade, pela experiência nova, por aquela sensação que ainda não teve. E vive temperando essas coisas com o velho: tudo aquilo que fazia no país de origem, as comidas que comia, os tipos de lugares que ia. No fim, mesmo as coisas que já estava acostumado a fazer são diferentes, porque está com gente diferente, num lugar diferente - no meu caso, num hemisfério diferente.
O estudante internacional quer sempre saber mais sobre o país dos amigos, a cultura do país dos amigos, como se chega em garotas nas festas dos paises dos amigos e, mais do que tudo, como se manda alguém se f*der na língua materna dos amigos.
Ele não vai se aguentar e vai acabar compartilhando com os amigos da mesa tudo sobre o país dele, e vai se divertir muito vendo os outros se xingarem sem nem saberem o que estão falando. Eu tive bastante ajuda nesse sentido, porque graças a Copa o Brasil está na moda e finalmente mais pessoas sabem que o Brasil fala Português e menos pessoas chegam dizendo "Hola, buenos días muchacho!". Eu conheci a maioria das cidades dos meus amigos pelos vídeos que cada cidade fez usando a música Happy, e eles conheceram Porto Alegre pelo vídeo de propaganda da Copa mesmo.

(conterrâneos de Novo Hamburgo, não me odeiem! Amo minha cidade, mas tem pouco para se falar depois de dizer que a) ela fica a 40 quilômetros de Porto Alegre, b) é lá que fica a borracharia do Jorge, c) ela foi nomeada em homenagem a Hamburgo na Alemanha [então uma breve explicação da colonização europeia no sul do Brasil, e o porque de eu "não parecer brasileiro"] e d) é um recanto onde a Arte foi morar e a Fenac do calçado é o orgulho do lugar.)

A maioria dos estudantes internacionais, ainda, não dispensa uma festa ou no mínimo um pré-drinking na cozinha azul. Exceto quando os exames se aproximam, e todo mundo entra em um estado de estudo em que o combustível é o café e o objetivo é aprender tudo o que der. Opiniões vão variar quanto a quando é que se considera que um exame está próximo o suficiente, mas todo mundo acaba tendo que estudar alguma hora.

Deixei passar alguma coisa? Sim ou com certeza? Escreve nos comentários o que falta :)

Tot ziens!

Estudantes internacionais brasileiros: subespécie muito barulhenta, pouco pontual e que está em todos os lugares. Na foto, esperando o trem para voltar de Amsterdam.

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